Introdução e Objetivo
As interações medicamentosas (IM) são responsáveis por 4% a 11% das internações em hospitais. Estima-se que 30% das reações adversas a medicamentos fatais ocorram por consequência das IM. No Brasil, estudos demonstram que as IM ocorrem em mais de 60% dos pacientes hospitalizados.
A ocorrência de IM é um risco permanente em hospitais, considerando-se que a utilização de medicamentos em pacientes hospitalizados costuma ser maior do que em pacientes tratados na comunidade, e merece ser investigada. Apesar do conhecimento da necessidade de realização do segmento farmacoterapêutico por parte dos farmacêuticos hospitalares, avaliando-se inclusive a possibilidade de interações entre os fármacos, ainda nota-se uma importante lacuna na realização efetiva desse trabalho.
Deste modo, o objetivo deste estudo foi quantificar e analisar a ocorrência de interações medicamentosas no âmbito hospitalar, qualificando-as de acordo com o risco à saúde do paciente.
Metodologia
Para a realização deste estudo, foram coletadas prescrições médicas de pacientes que ingressaram em unidades de internação de Clínica Médica (CM), Unidade de Terapia Intensiva adulto (UTI), Pronto Atendimento (PA) e Oncologia (ONC) de um hospital de médio porte localizado na região noroeste do Paraná, no período de 06 de setembro à 18 de dezembro de 2015. As variáveis analisadas foram: diagnóstico inicial, setor de internamento, medicamentos prescritos, apresentação farmacêutica, posologia, via e horários de administração e data da prescrição.
Para a análise das prescrições foi utilizado o Software Medscape e o livro “Interações Medicamentosas” de autoria de Celmo Celeno Porto e colaboradores, as interações observadas foram classificadas em: séria, significante e menor de acordo com sua gravidade. Com base nos dados encontrados foi realizada estatística descritiva, como média e desvio padrão (±DP).
Resultados
Foram coletadas 213 prescrições de 90 pacientes, das quais descartou-se 27 por insuficiência de informações. Os pacientes receberam em média 8,6 (±3,1) medicamentos, no total 66 diferentes fármacos estiveram envolvidos nas IM.
Das 186 prescrições analisadas 75,2% (140/186) apresentaram pelo menos uma interação medicamentosa, com média de 2,3 (±1,2) interações por prescrição, totalizando 324 interações. Destas, 48,7% (158/324) foram em pacientes internados na UTI; 25,3% (82/324) na CM; 20,3% (66/324) na ONC; e 5,7% (18/324) no PA.
Quanto à gravidade, 9,3% (30/324) das interações potenciais foram consideradas menores; 68,4% (221/324) significantes; e 22,6% (73/324) sérias. Entre as interações sérias, ou seja, interações que podem causar prejuízos irreparáveis ao paciente, a administração concomitante de heparina-piperacilina (11/73) foi a principal. Entre as significantes, destaca-se dexametasona-tramadol (10/221); dipirona-levofloxacino (10/221); e clopidogrel-omeprazol (9/221).
Considerações Finais
A análise das prescrições sugere elevada frequência de interações medicamentosas entre pacientes hospitalizados, evidenciando a necessidade de implantação de segmento farmacoterapêutico e farmácia clínica no ambiente hospitalar, bem como protocolos de manejo de interações medicamentosas, que visem reduzir os riscos aos pacientes, preservando a eficácia terapêutica.