Introdução e Objetivo
O aumento do consumo de drogas e, consequentemente, da comercialização e/ou tráfico, levou os moradores das comunidades à exposição das consequências desse contexto, marcado por problemas sociais, econômicos, legais, e de saúde, que envolvem violências e criminalidade, problemas no trabalho e desagregação de famílias. Algumas comunidades estão mais expostas às drogas de abuso, e ao impacto decorrente do seu uso, ampliando a percepção e a discussão sobre os problemas sociais existentes e o impacto das drogas na qualidade de vida e saúde da população. O reconhecimento da percepção social sobre o contexto que envolve o uso de drogas de abuso, e da influência que a violência exerce sobre a vida das pessoas nas comunidades, configura-se como importante ferramenta para a elaboração de estratégias de enfrentamento desse fenômeno. Desse modo, o presente estudo teve como objetivo investigar a percepção social sobre drogas de abuso e violência em uma comunidade.
Metodologia
Estudo quantitativo, descritivo, e transversal, utilizando inquérito domiciliar de base populacional. Foi realizado em uma comunidade da região Noroeste do Paraná, durante os meses de maio a junho de 2012. A amostra populacional foi constituída por 358 moradores, com idade superior a 18 anos, a partir de amostragem probabilística aleatória representativa dos 5.140 moradores, estabelecendo nível de confiança de 95%, erro amostral de 0.05 e valor de p 0.10. O questionário estruturado incluiu questões referentes ao perfil socioeconômico dos entrevistados, à percepção sobre a presença de drogas na comunidade e as consequências na vida do entrevistado e da família. A análise estatística consistiu em descrever os dados encontrados, por meio de análise descritiva simples (frequência absoluta, relativa, e cálculo das médias). O estudo respeitou as exigências formais regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, com parecer número 16799.
Resultados
Os entrevistados possuíam idade média de 43,9 ± 15 anos, a maioria era do sexo feminino (68,2%) e escolaridade era de nove a 11 anos de estudo (36,3%). A renda familiar média foi de 1.602,00 reais. A maioria (53,6%) referiu estar empregada ou desenvolvendo atividades autônomas, embora o desemprego fosse referido por 12,9%. Dos 358 entrevistados, 98,6% informaram que percebem a presença de drogas na comunidade. Quando questionados sobre as alterações na vida familiar/social ocasionadas pela presença de drogas na comunidade, 56,1% dos moradores referiram que esta presença foi considerada “preocupante” e motivo de sofrimento para 61,5%.A presença de drogas na comunidade ocasionou interferência na vida familiar (22,1%) e social (29,5%) e no comportamento familiar (24,9%) dos entrevistados. Ao serem questionados sobre o principal motivo da circulação e consumo de drogas na comunidade, 92,3% dos entrevistados elencaram componentes da existência das drogas na comunidade, que foram agrupadas em equipamentos de segurança pública, determinantes sociais, componentes familiares e componentes pessoais. O principal motivo da circulação e consumo de drogas na comunidade foi relacionado aos equipamentos de segurança pública, representados pela ausência de policiamento e combate ao tráfico de drogas (31,4%) e pela falta de punição dos usuários de drogas (2,5%). Em relação aos componentes familiares, a desestrutura familiar foi referido por 26,6% dos entrevistados. Os motivos relacionados aos determinantes sociais foram relacionados à ausência de educação, moradia e emprego (12,2%), pobreza (1,7%), ausência de acesso à cultura e lazer (1,4%) e ausência de religião (0,9%). E aos componentes pessoais, relacionou-se a falta de conscientização da população para o não-uso (15,6%).Quanto à relação uso de drogas e violência, a maioria dos moradores (90,2%) referiu que percebe a presença de violência na comunidade, destes, 93,8% a relacionaram com o uso de drogas. Dos 358 entrevistados, 8,7% sofreram atos violentos na comunidade, sendo mulheres 74,2% destes entrevistados. Dentre os tipos de violências referidos, a agressão física (38,7%) e assalto (35,5%) foram os tipos de violência mais referidos, embora houvesse também agressão verbal (19,4%) e tentativa de assassinato (6,4%). O medo de sofrer violências na comunidade foi referido por 79,6%, dentre estas, foram citadas assalto (33,8%), bala perdida (17,0%), assassinato (15,9%), agressão física (10,9%) e violência sexual (2,0%).
Considerações Finais
A presença de drogas na comunidade influencia negativamente a vida dos moradores, levando ao enclausuramento, pelo medo de sofrer atos violentos, com restrições ao trabalho para as mulheres, que deixaram de trabalhar para cuidar do domicilio, e diminuição de atividades que exigem deslocamento dos entrevistados pelas ruas do bairro. A ausência de policiamento na comunidade foi considerado o motivo da circulação de drogas, e a presença de violência na comunidade foi relacionada ao uso de drogas.