Introdução e Objetivo

A osteopatia hipertrófica é uma síndrome paraneoplásica incomum, geralmente associada a neoplasias pulmonares primárias, podendo ou não ter metástases, lesões intratorácicas tumorais, ou até mesmo neoplasias sem envolvimento torácico, onde há um distúrbio de osteoprodução generalizado do periósteo, que acomete os ossos longos das extremidades.

A patogenia da osteopatia hipertrófica não é completamente compreendida, acredita-se que o aumento do fluxo sanguíneo nas extremidades resulta em crescimento exarcebado do tecido conjuntivo vascular, com subsequente metaplasia fibrocondroide e neoformação óssea subperiosteal. A neoformação óssea periosteal resulta em espessamento cortical. A superfície periosteal parece nodular ou espiculada quando observada radiograficamente. Quando acomete as articulações, as superfícies ósseas não recobertas por cartilagem são ásperas e apresentam formação de grandes osteófitos pericondrais. O presente trabalho tem por objetivo relatar o caso de uma cadela com osteopatia hipertrófica, 10 meses após a mastectomia parcial devido a presença de melanoma maligno e carcinoma papilífero metastático em pulmão, pleura, fígado, cerebelo e telencéfalo.

Metodologia

Um canino, fêmea, raça Boxer, com 11 anos de idade, pesando 25 quilos, foi trazido ao Hospital Veterinário da Faculdade Integrado de Campo Mourão para a realização de exame radiográfico de tórax, membros pélvicos e torácicos. O animal apresentava histórico de melanoma maligno, porém retirado em mastectomia pregressa. Além disso o animal apresentava um aumento de volume nas regiões cárpicas e társicas de ambos os membros. No exame radiográfico de membros torácicos e pélvicos, visualizou-se reação periosteal em paliçada em falanges, metacarpos, metatarsos e porção distal de radio, ulna, tíbia e fíbula, com aumento de volume e radiopacidade de tecidos moles adjacentes, sinais radiográficos sugestivos de osteodistrofia hipertrófica. O quadro do animal foi agravando e o proprietário optou pela eutanásia, sendo o paciente encaminhado para necropsia.

Na qual observou-se aumento de volume não edematoso dos membros, compatível com osteopatia hipertrófica pulmonar (doença de Marie) na macroscopia. Os achados microscópicos da necropsia foram metástase de carcinoma papilífero em cerebelo, telencéfalo, pulmão, pleura e fígado.

Resultados

O aumento de volume não edematoso dos membros associado ao exame clínico, exame radiográfico, observação da reação periosteal sem envolvimento articular e a predisposição racial do paciente, são compatíveis com osteopatia hipertrófica. Em cães essa lesão paraneoplásica geralmente é secundária, diferentemente do que ocorre em humanos, e são normalmente relacionados com neoplasias que causam metástases.

Os achados da necropsia evidenciaram a metástase de carcinoma papilífero em cerebelo, telencéfalo, pulmão, pleura e fígado, evidenciando a origem da osteopatia hipertrófica. A patogenia ainda não foi esclarecida, mais acredita-se que estas alterações ocorram devido ao aumento do fluxo sanguíneo periférico, secundário aos reflexos neurovasculares eferentes do nervo vago e intercostais, ocorrendo vasodilatação periférica, resultando em proliferação, lisa ou irregular, do periósteo dos ossos longos como metatarso e metacarpo. Alguns autores ainda relatam fatores humorais, hipóxia ou a combinação de ambos.

Embora alguns autores relatem melhora do quadro com a remoção do processo tumoral, nesse animal tornava-se inviável devido ao grande número de tumores disseminados. Outra opção de tratamento paliativo seria a quimioterapia, porém, apresentados ao proprietário o mesmo optou pela eutanásia.

Considerações Finais

Embora a osteopatia hipertrófica esteja relacionada com lesões torácicas expansivas, a causa dessa condição é desconhecida. Acredita-se que haja anormalidades na produção hormonal, porém ainda não esclarecida.