Introdução e Objetivo

A claudicação interfere negativamente no desempenho e longevidade de equinos atletas, sendo uma das principais causas da aposentadoria precoce. A osteíte podal, septica ou não séptica, esta relacionada às enfermidades que afetam o desempenho do equino e é caracterizada por uma desmineralização da falange distal. A osteíte podal não séptica pode ser primária e está relacionada à contusão grave da sola ou à traumas recorrentes, enquanto que a osteíte secundaria pode ser causada por laminites, feridas e contusões de sola. A osteíte podal séptica está relacionada com a introdução de bactérias do ambiente através dos tecidos moles da sola que se disseminam para falange distal ou pela introdução direta dos micro-organismos na falange. O diagnóstico é baseado nos achados radiográficos, desmineralização, formação óssea irregular, aumento no forame nutriente da margem solear, perda do detalhe trabecular e irregularidade do bordo solear da falange.

Metodologia

Foi atendido no Hospital Veterinário da Faculdade Integrado (HV), um equino, macho, de 6 anos, com histórico de claudicação. Na anamnese o proprietário relatou claudicação há um mês do membro torácico esquerdo. O serviço de um casqueador foi  solicitado, o qual erroneamente expos a sola do animal. O equino passou por um período em decúbito lateral, com melhora após aplicações de doses repetidas de flunexin meglumine durante cinco dias. Ao chegar no HV, o equino apresentava o andar em ovo, impossibilitando em parte o exame de claudicação. Ao pinçamento dos quatro membros, o animal  apresentava reação dolorosa. Adicionalmente, foi observada fragilidade de sola, presença de doença da linha branca e sola dupla. Durante exame radiográfico foi detectado nos membros torácico esquerdo e pélvico direito dilatação e irregularidade de canais vasculares, irregularidade de bordo solear, presença de cisto no processo alar medial (MTE), alteração de trabeculado ósseo, dilatação de forame nutrício. 

Resultados

Com o histórico clínico e os achados radiográficos carecterizou-se osteíte podal contaminada. Foi realizado ferrageamento corretivo com ferradura invertida, que proteje o casco ao induzir o apoio somente na parede do casco. Foi instituída antibióticoterapia com a associação de sulfa com trimetorpima na dose 30 mg/kg BID por 10 dias e tratamento com fenilbutazona na dose 3mg/Kg BID por 3 dias. Adicionalmente, foi realizado pé de luvio com permanganato de potássio e sulfato de cobre e suplementação oral com sulfato de cálcio durante 10 dias. Neste período o paciente permaneceu em baia. Após a melhora clínica, o paciente recebeu alta hospitalar com prescrição de isoxsuprina por 20 dias e retorno dentro de 90 dias para reavaliação radiográfica. As lesões de sola e irregularidades do casco de equinos de trabalho, esporte e tração são responsáveis por graus variáveis de claudicação e por vezes resultam em perda de desempenho. Resultado da sobrecarga mecânica e funcional nas falanges distais, tendões e ligamentos. Estudos mostram que mesmo em indivíduos com grau leve de claudicação podem haver alterações radiográficas significativas na falange distal  que vão desde alterações leves do trabeculado até fraturas e rotação. Evidenciando que o caso relatado pode de fato ter se agravado pela falha no casqueamento. Sabe-se que as falhas de casqueamento e ferrageamento estão diretamente envolvidas nas alterações de equilíbrio e pressão na sola o que leva às alterações ósseas no exame radiográfico. Alguns estudos mostram que há necessidade de avaliação radiográfica em pelo menos três projeções, conforme a literatura. Isso porque algumas alterações podem passar despercebidas no estudo em projeção látero-medial, em função da sobreposição das estrutras. No paciente em questão, todas as projeções mostraram alguma alteração sugestiva da lesão, nos membros mais afetados. O tratamento empregado está dentro do recomendado pela literatura, uma vez que havia envolvimento bacteriano.  O uso do vasodilatador periférico tem ganhado espaço por se mostrar eficiente nos quadros tanto de laminite quanto de osteíte, facilitando a perfusão na extremidade do membro e assim contribuir para a reparação tecidual. Justificando assim a prescrição feita ao paciente.

Considerações Finais

O presente relato permite observar que mesmo casos mais severos de osteíde podal com histórico de progressão prolongada podem ter bom prognóstico, desde que o diagnóstico e o tratamento sejam adequados ao quadro clínico do paciente. Logo, a intervenção deve ser feita buscando interromper todos as variáveis envolvidas na patogenia da lesão. Isso só é possível com abordagem clínica e uso adequado de técnicas de exames complementares.