Introdução e Objetivo

A descoberta do sistema de grupos sanguíneos ABO, por Landsteiner (1900), e do fator Rh, por Wiener e Landsteiner (1940), representou um avanço na medicina, uma vez que tais estudos possibilitaram uma compreensão melhor sobre o tecido sanguíneo. 

Existem duas proteínas relacionadas a tipagem sanguínea no sistema ABO, proteína A e a B, já no fator Rh há a proteína D, e elas podem ou não estar acopladas às hemácias. A ausência ou a presença de alguma dessas proteínas é o que define o tipo sanguíneo. Tal conhecimento é relevante, pois existe incompatibilidade entre diferentes tipos sanguíneos, e, além disso, o conhecimento do perfil genético populacional possibilita uma distribuição de sangue mais eficiente, já que a demanda de cada região passa a ser estabelecida.

Nesse contexto, o objetivo da pesquisa foi identificar a variabilidade genética e as principais classes fenotípicas e genotípicas entre os doadores de sangue do Hemonúcleo da cidade de Campo Mourão, Paraná.

 

Metodologia

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa de abordagem quantitativa, desenvolvida no Hemonúcleo da cidade de Campo Mourão, Paraná, o qual pertence a rede Hemepar.

Para a coleta das informações, foi utilizado o banco de dados de doadores voluntários de sangue, que realizaram doações entre os anos de 2007 e 2017, fornecidos pelo Sistema de Informações e Controle Hemoterápico do Paraná (SHTWEB). Analisou-se os dados relativos aos sistemas sanguíneos ABO e Rh.

Com base nas informações obtidas foi realizada uma análise do perfil genético-populacional dos doadores voluntários de sangue, bem como estimativa fenotípica da população da COMCAM – PR, segundo a dinâmica populacional postulada pelo teorema do equilíbrio de Hardy-Weinberg.

Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa das Unidades da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná - Hospital do Trabalhador (CEP SESA - HT) em Curitiba, Paraná, sob parecer nº 2.316.870.

Resultados

Com as análises dos dados foi observado que a distribuição da frequência dos grupos sanguíneos do sistema ABO entre os doadores de sangue do Hemonúcleo de Campo Mourão entre os anos de 2007 a 2017 foi: 50,15% do tipo O, 36,11% do tipo A, 10,14% do B e 3,584% do AB. Quanto ao fator Rh, os seguintes resultados foram obtidos: 86% do sangue doado possui a proteína D, ou seja, é Rh+, e apenas 14% é do tipo Rh-. Vale ressaltar que foi considerado o número de doações e não de voluntários, já que uma pessoa pode doar sangue mais de uma vez por ano.

Ao unir ambos os sistemas de tipagem sanguínea (ABO/Rh) nota-se que o sangue O+ é o mais comum, representando 42,71% das doações, e o sangue AB- é o mais raro, representando 0,69% das doações. Tais resultados são benéficos, pois uma pessoa com o tipo sanguíneo O+ pode doar sangue para qualquer paciente Rh positivo, os quais representam a maioria, entretanto, a raridade do sangue Rh negativo entre as doações é um problema, uma vez que é mais difícil encontrar doadores compatíveis para as pessoas com esse tipo sanguíneo.

As frequências gênicas estimadas para os locus ABO foram: i= 0,7082; IA= 0,2234; IB= 0,0712, semelhantes às observadas no total da população brasileira, i= 0,6708; IA= 0,2583 e IB= 0,0672. Para o locus Rh as frequências estimadas foram: D = 0,6355; d = 0,3645. A heterozigosidade esperada entre os doadores para o loco ABO/Rh foi: IA i /Dd = 68%; IB i /Dd = 21,6% e IA IB / Dd = 6,86%.

Ao comparar os dados com pesquisas realizadas em outras regiões, nota-se que os resultados são equivalentes quando se trata da dominância dos tipos sanguíneos O e A. Em Rondonópolis, por exemplo, 53,69% dos doadores são do tipo O, 31,79% do tipo A, 10,91% do tipo B e 3,61% do tipo AB. Outras cidades estudadas também seguem o mesmo padrão, como Vargem Grande, Peritó, São Bento, São Luís e Peritó, todas do estado do Maranhão, sendo esta ultima a que possui maior variação, onde 61,43% dos doadores são do tipo O.

Tais resultados mostram que o perfil sanguíneo brasileiro pode ser aplicado na maioria das vezes, entretanto é importante salientar que alterações podem ocorrer em comunidades isoladas e em outros países.

Considerações Finais

O presente trabalho constatou a variabilidade fenotípica e genotípica na população estudada, mostrando que o perfil genético dos doadores corresponde ao encontrado no Brasil. Tal análise pode contribuir para a formação de um banco de dados que possa auxiliar com métodos estatísticos a medicina transfusional da região da COMCAM e do Estado do Paraná.