Introdução e Objetivo

A presente pesquisa encontra-se em desenvolvimento junto ao Programa de Iniciação Científica da Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR/ Campus de Campo Mourão com subsídio financeiro da Fundação Araucária. Para este trabalho, discutiremos alguns elementos dos resultados parciais do projeto intitulado “Cinema, bullying escolar e a produção de materiais didático-pedagógicos”.

Compreendemos a riqueza da linguagem fílmica e as diversas temáticas que podem ser exploradas e/ou desdobradas de uma determinada produção, dentre as quais, destaca-se o bullying escolar. O bullying escolar, problema de saúde pública e recorrente em todas as instituições escolares do mundo, é uma temática problemática porque atinge, de distintas formas, inúmeros educandos, sejam eles vítimas, agressores ou testemunhas (FANTE, 2005, RISTUM, 2010).

Intentamos, nesse espaço, refletir sobre a importância do uso do cinema em sala de aula na prevenção e conscientização do bullying escolar, da mesma maneira apontar a pertinência do curta-metragem “Rock, Papper Scissors” (2016) – cuja tradução é “Pedra, papel, tesoura” –, como recurso pertinente à construção de dois materiais didático-pedagógicos.

Um material será direcionado ao trabalho com os educandos do 1º ano do Ensino Fundamental e o outro, ao trabalho com os educandos do 2º ano do Ensino Fundamental.  Ambos materiais abordarão o bullying escolar e, em concomitância, se articularão com o processo de alfabetização dos educandos.

Metodologia

Para esse trabalho realizamos um recorte da pesquisa mais ampla em andamento. A pesquisa é de cunho bibliográfico e, até o presente momento, envolveu as seguintes etapas: i. investigação das contribuições do uso do cinema em sala de aula conforme Duarte (2002) e Napolitano (2019); ii. estudo da temática bullying escolar segundo Fante (2005), Ristum (2010), Brasil (2015); iii. Pesquisa de filmes relacionados com a temática bullying escolar; iv. seleção do curta-metragem “Rock, Papper Scissors ” (2016) compatível à faixa etária dos educandos do 1º ano e do 2º ano do Ensino Fundamental; iv. análise de conteúdo do curta-metragem de acordo com a metodologia proposta por Penafria (2009). 

Convém destacar que falta concluir duas etapas da pesquisa. Uma etapa será voltada à construção de dois materiais didático-pedagógicos com base no conteúdo do curta-metragem “Rock, Papper Scissors" (2016).  Por fim, a última etapa será remetida a disponibilização dos materiais didático-pedagógicos aos educadores que lecionam no 1º ano e no 2º ano do Ensino Fundamental.

Resultados

Uma das possibilidades de trabalhar com a temática bullying nas escolas, é por meio do cinema, pois a riqueza da linguagem fílmica permite realizar desdobramentos e diálogos pertinentes ao tema.

Fruto de um conjunto de seleções, perspectivas, escolhas e recortes, o cinema é uma Arte que permite uma experiência estética, subjetiva, fictícia e emocional. A produção de um filme envolve vários sujeitos, como por exemplo, editores, roteiristas, diretores, e expressa interesses ideológicos, estéticos, comerciais, pedagógicos, dentre outros. Assim, por contemplar aspectos sociais abrangentes, apresenta possibilidades de trabalho no âmbito escolar (NAPOLITANO, 2019).

Para Napolitano (2019), mesmo que o professor não apresente um conhecimento crítico cinematograficamente especializado, é possível que ele usufrua do cinema em sala de aula com o intento de ir além das narrativas presentes nos filmes e articulá-las com os conteúdos curriculares.

Nesse viés, a utilização do cinema com a finalidade de abordar o bullying escolar, apresenta um valor enriquecedor na formação e conscientização dos educandos, posto que, por ser uma Arte peculiar, nos ensina sobre o respeito e as “[...] práticas dos diferentes grupos sociais que integram as sociedades complexas” (DUARTE, 2002, p.90).

Conforme Ristum (2010), o termo bullying provém da língua inglesa e é utilizado em diferentes países. Devido as múltiplas variações na forma com que o bullying pode ocorrer, se tornou difícil encontrar, na língua portuguesa, um termo que conseguisse abranger tudo o que ele significa, portanto, o que permanece é o conceito geral utilizado em outros países.

O bullying escolar, pode ser compreendido de maneira direta - insultos físicos e verbais - e indireta - exclusão social, comentários maldosos, supressão de alunos e propagação de rumores -. Em síntese, direta ou indiretamente, ele é definido por três critérios: comportamento agressivo e intencional, comportamento repetitivo ou sistemático e comportamento que manifesta uma relação de poder, de dominação (RISTUM, 2010, p.96).

São diversas as ações realizadas que caracterizam o bullying escolar, por exemplo, “[...] colocar apelidos, humilhar, discriminar, bater, roubar, aterrorizar, divulgar comentários maldosos, excluir socialmente, dentre outras” (RISTUM, 2010, p.96).

Suas consequências, conforme expõe Fante (2005) e Ristum (2010), afetam todos os envolvidos, especialmente a vítima, dado que ela continua a sofrer os efeitos negativos causados, os quais ocasionam prejuízos nas relações futuras de trabalho, constituição familiar, criação de filhos, saúde mental e física.

Dessa maneira, é indispensável que a temática seja abordada na sala de aula, a fim de proporcionar discussões e ações conscientizadoras e preventivas, assim como impulsionar um trabalho planejado e coletivo que busque tratar as raízes do bullying escolar.

Para tanto, selecionamos o curta-metragem elaborado para um comercial da Android, lançado em 2016, denominado “Rock, Paper, Scissors” (2016). Trata-se de uma animação construída com referência na famosa brincadeira de criança “Pedra, papel e tesoura”. Diante desse curta-metragem, a metodologia utilizada para sua análise foi a de conteúdo, que na perspectiva de Penafria (2009), interpreta o filme como um relato e objetiva considerar apenas seu tema.

Embora o curta-metragem apresente aproximadamente um minuto de duração, narra uma história relevante, utilizando-se do espaço escolar para problematizar o bullying e sugerir a necessidade do respeito, da tolerância e da solidariedade nas relações entre os educandos.

No início do comercial, o personagem papel aparece caminhando medrosamente em um corredor cheio de tesouras – conforme as regras do jogo tradicional, papel e tesoura são naturalmente adversários –. No entanto, neste comercial, essas suposições habituais são invertidas.  Enquanto o papel caminha pelo corredor onde a tesoura está, se sente aliviado ao encontrar outros papéis, talvez porque deveriam ser como ele. Porém, na realidade ocorre o contrário, os papéis que ele encontra são os valentões, os que praticam bullying. E é a Tesoura – o adversário “natural” do papel – quem vem ao resgate dele. No final do curta-metragem, a pedra, o papel e a tesoura se unem e, dessa união, a mensagem comunicada é que todos são iguais, justamente porque são diferentes.

A inversão de papéis assumidos pelos personagens, ressalta alguns elementos essenciais na luta contra o bullying escolar. Portanto, a pertinência desse curta-metragem para os diálogos acerca da temática bullying escolar e para a produção dos materiais didático-pedagógicos, justifica-se por romper com os papéis antagônicos propostos pelo jogo tradicional “Pedra, papel e tesoura”, nos fazendo refletir sobre como lidar com as diferenças.

Considerações Finais

A díade cinema e educação é profícua na abordagem do bullying escolar. Diante de uma obra cinematográfica, nesse caso, do curta-metragem “Rock, Papper Scissors” (2016), os sentidos e as representações, subjetivamente elaboradas pelos educandos, poderão contar com um trabalho pedagógico, pautado no diálogo, capaz de auxiliar na luta contra essa violência sistemática.

O curta-metragem selecionado problematiza e quebra os padrões propostos pela brincadeira tradicional “Pedra, papel e tesoura” e ressalta o valor das diferenças. Dessa forma, pautando-se no curta-metragem, os materiais didático-pedagógicos terão como fundamento a prevenção e a conscientização do bullying escolar e se articularão ao processo de alfabetização dos educandos. Esperamos que, posteriormente, a divulgação dos materiais constitua-se como “ferramenta” pedagógica em sala de aula.