Introdução e Objetivo
A maca peruana (Lepidium meyenii) é uma planta herbácea da família Brassicaceae, cultivada nos Andes Peruanos a 3.500-4.500 metros acima do nível do mar, em terreno rochoso, luz solar intensa, ventos fortes e temperatura de congelamento. A ação antioxidante da maca está relacionada à presença de fenóis e flavonóides nos seus extratos aquosos e etanólicos, enquanto que nos extratos secos há presença de glucosinolatos. Os peruanos vêm utilizando a maca durante séculos devido às características nutricionais e medicinais dessa planta. Além disso, a presença de compostos antioxidantes tem sido muitas vezes correlacionada ao efeito hepatoprotetor de diversos fitoterápicos. Dessa forma, o presente estudo teve o objetivo de avaliar o possível efeito hepatoprotetor no extrato seco da maca peruana em modelo animal com hepatotoxidade induzida por paracetamol.
Metodologia
Ratos Wistar machos (n = 22), com 90 dias foram aleatoriamente distribuídos em quatro grupos: controle (n=5); MACA (n=5; tratados por 15 dias com extrato seco de maca peruana; 166 mg/kg); PAR (n=6; recebeu paracetamol em dose única de 2 g/kg, 48 horas antes do sacrifício); e MACA + PAR [n=6; pré-tratamento com maca peruana por 15 dias e, em seguida, os animais receberam uma dose única de paracetamol] (CEEA: 2362/2017).
As amostras de sangue foram utilizadas para avaliação das enzimas marcadoras de função hepática, aspartato aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT), lactato desidrogenase (LDH) e fosfatase alcalina (FAL). As gorduras epididimal, mesentérica, inguinal e retroperitoneal foram utilizadas para avaliação do índice de adiposidade. No fígado, realizou-se análise histológica e avaliação do nível de peroxidação lipídica. As análises estatísticas foram realizadas no software GraphpadPrism e valores de p<0,05 foram considerados significativos.
Resultados
Não houve diferenças significativas no peso de nenhum dos depósitos de gordura avaliados, assim como no índice de adiposidade. Nas avaliações da AST, os grupos PAR e MACA+PAR apresentaram níveis séricos significantemente maiores em relação ao grupo controle (p=0,0491 e 0,0081, respectivamente). O grupo PAR e MACA + PAR também apresentaram valores significantemente maiores quanto comparados com o grupo MACA. Foi possível observar que o pré-tratamento com extrato seco de maca peruana não foi eficaz em proteger o fígado dos danos causados pelo paracetamol no grupo MACA + PAR, pois os níveis de AST não apresentaram diferença significativa quando comparados ao grupo PAR. A avaliação da atividade da ALT, mostrou um aumento significativo no grupo MACA + PAR em relação ao grupo controle e grupo MACA (p=0,0093 e 0,0090, respectivamente). Entre os grupos PAR e MACA + PAR, não houve diferença significativa nos níveis de ALT, o que evidencia que o pré-tratamento com extrato seco de maca peruana não foi eficaz em proteger o fígado dos danos causados pelo paracetamol. A atividade da LDH foi significativamente aumentada no grupo PAR em relação aos grupos controle e MACA (p=0,0126 e 0,0066, respectivamente), evidenciando o efeito lesivo do paracetamol. Entre os grupos PAR e MACA + PAR, não houve diferença significativa na atividade da LDH. A atividade da FAL não mostrou diferenças significativas entre os grupos avaliados. Também não foram observadas diferenças nos níveis de peroxidação lipídica no fígado dos animais. Com base nas análises histológicas do fígado, verificou-se que o grupo MACA não apresentou nenhuma alteração significativa, mostrando-se similar ao grupo controle. Em contrapartida, tanto o grupo PAR, quanto o grupo MACA + PAR, foram classificados com lesão moderada, caracterizadas por presença de infiltrado inflamatório, células de Kupffer, necrose de hepatócitos em nível moderado e hepatócitos com megacarióse, sendo que tais alterações foram mais evidentes nas regiões centrolobulares e periportais. No grupo PAR, além da lesão moderada, também foram observadas degeneração hidrópica em duas lâminas. As observação de focos de inflamação em análises histológicas do fígado de animais com hepatotoxicidade induzida por paracetamol são frequentes, especialmente em torno das veias centrais.
Considerações Finais
No presente estudo observou-se que o pré-tratamento com extrato seco de maca peruana não foi capaz de estagnar o efeito lesivo causado pelo paracetamol, mas também não desencadeou efeitos adversos na dose utilizada. Assim, apesar de possuir ação antioxidante comprovada nos extratos secos, a maca peruana não mostrou efeito hepatoprotetor. Portanto, sugere-se a realização de novos estudos utilizando-se outras doses e/ou formas de extratos, a fim de melhor compreender os efeitos hepáticos da maca.