Introdução e Objetivo
Na primeira infância, compreendida entre zero e quatro anos de idade, os acidentes têm sido responsáveis por lesões e óbitos infantis no Brasil e no mundo e estão intimamente relacionados com o ambiente domiciliar e ao comportamento da família. Apesar de a família ser a unidade social com papel de promover a saúde e o bem-estar aos seus integrantes, desempenhando atividades de proteção, segurança e cuidados iniciais diante de eventos inesperados e com risco de morte, muitas condutas iniciais de familiares diante de acidentes domésticos não têm evidência científica, e em muitos casos, agravam o quadro clinico dos acidentes. O objetivo do presente estudo foi identificar o local de ocorrência, presença de familiar no momento do acidente toxicológico infantil e as condutas iniciais dos familiares.
Metodologia
Trata-se de um estudo exploratório descritivo, de natureza quantitativa, realizado por meio de busca retrospectiva em fichas epidemiológicas de Ocorrência Toxicológica - OT, arquivadas em um centro de informação e assistência toxicológica - CIAT do noroeste do Paraná. A população do estudo compreendeu crianças de zero a quatro anos, intoxicadas pelos diversos agentes tóxicos e cadastradas ao Centro no período de janeiro de 2011 a dezembro de 2013. Foram compilados da ficha OT dados relativos ao sexo e idade da criança e agente da intoxicação; local da ocorrência e presença de adultos no momento do acidente; e condutas de primeiros socorros para a intoxicação realizadas pelos adultos. Para processamento dos dados constituiu-se um banco de dados eletrônico, e os resultados foram analisados descritivamente - frequências absoluta e relativa. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (COPEP) mediante parecer nº 168.316/2012.
Resultados
No período estudado, foram registrados 1012 casos de acidentes toxicológicos na primeira infância: a maioria do sexo masculino (556 – 54,9%) e na idade de um a dois anos (650 – 64,3%). A via oral foi a mais expressiva em relação à via de exposição ao agente tóxico, com 925 casos (91,4%). Os principais agentes foram os medicamentos, com 401 casos (39,6%), os domissanitários (189 - 18,7%) e os produtos de uso industrial com 163 (16,1%), sendo a maioria das intoxicações consideradas não intencionais, classificadas como acidentes individuais (950 - 93,9%) ou coletivos (11 – 1,0%). No presente estudo, a residência da própria criança foi o local de maior ocorrência das intoxicações (959 - 94,8%). Em 868(85,8%) dos casos havia um adulto presente no momento da ocorrência e 765 (88,1%) eram o pai e/ou a mãe das crianças e 64 (7,4%) eram os avós. Em relação a esses socorros domiciliares, 229 (22,6%) adultos presentes no momento do episódio de intoxicação das crianças os realizaram e as principais ações informadas foram: realização de descontaminação do local afetado por lavagem e por meio mecânico (113 – 49,3%), administração de líquido para diluição do agente (75 – 32,8%), e indução de vômito/êmese (38 - 16,6%).
Considerações Finais
O número de adultos presentes no momento do acidente que realizaram socorros domiciliares foi mínimo e muitos procedimentos realizados não tinham evidência científica e estavam ligados a crenças familiares inadequadas, denotando a falta de conhecimento dos pais e responsáveis sobre como reagir imediatamente a uma intoxicação acidental, embora o ideal seja realização de procedimentos corretos, pois procedimentos inadequados podem agravar o quadro clínico.