Introdução e Objetivo
No Brasil a margem de lucro de pequenas propriedades leiteiras se torna cada vez menor. Desta forma busca-aproveitar ao máximo a capacidade dos animais, sendo estes submetidos a extrema exigência nutricional, sanitária, produtiva e reprodutiva.
Em pequenas propriedades leiteiras o índice de ocorrência de retenção de placenta no período pós-parto varia entre 9,0 e 12,6%, e este pode aumentar exponencialmente em função de falhas no manejo nutricional, genético e sanitário do rebanho.
Em bovinos, considera-se retenção de placenta a não eliminação da mesma dentro de doze horas após o parto. Sendo a origem multifatorial, cabe ao médico veterinário responsável realizar o diagnóstico diferencial, considerando desde distúrbios decorrentes de estresse térmico a patologias zoonóticas.
Este trabalho tem por objetivo realizar uma revisão de literatura sobre a retenção de placenta em propriedades produtoras de leite, abordando também o impacto econômico e possíveis métodos de prevenção.
Metodologia
Esse trabalho foi elaborado a partir de uma revisão da literatura nas bases de dados do Scielo e Science Direct, assim como livros publicados relacionados ao tema. Restringiu-se às publicações em língua portuguesa e inglesa, artigos que incluíssem revisões bibliográficas, tratamentos ou pesquisas experimentais entre os anos de 2001 a 2015, utilizando-se como palavras chaves para a busca de artigos os termos: retenção placentária; bovinos; leite; diagnóstico.
Resultados
A literatura cita diversas alterações que levam ao episódio de retenção placentária em bovinos, e dentre estas destacam-se: a) Infecção uterina decorrente de doenças sistêmicas, b) contaminação urogenital, c) deficiência de nutrientes essenciais na atividade de parto, d) desordens metabólicas, como hipocalcemia, cetose e esteatose hepática, e) disfunções endócrinas causadas pelo uso empírico de fármacos indutores do parto ou por fatores estressantes, e) distocias, f) fator hereditário, sendo frequente em animais que por linhagem tenham histórico de consanguinidade, e g) fator fenotípico, como no caso de fêmeas com garupa estreita ou de ângulo invertido.
Geralmente, fêmeas bovinas acometidas podem apresentar sinais clínicos variados. Normalmente estas desenvolvem um quadro secundário de endometrite com sintomas posteriores como anorexia, apatia e hipertermia. Adicionalmente, a cronicidade e gravidade podem levar a fêmea ao decúbito, devido a contrações uterinas excessivas e hipocalcemia puerperal. A persistência deste quadro, também conhecida como paresia puerperal, pode levar a alterações patológicas secundárias, como mastite e atonia ruminal.
Sabe-se que disfunções no período de delivramento e a posterior a retenção das membranas fetais por um período superior à doze horas pós-parto retarda o processo fisiológico de involução uterina, assim como a retomada da atividade ovariana.
Fêmeas com histórico de retenção de placenta apresentam baixa fertilidade, puerpério prolongado e alto índice de recidivas, gerando queda na produtividade da propriedade. Estudos recentes relatam ainda a diminuição da produção leiteira da fêmea acometida e o aumento no volume de leite descartado pelo uso de antibióticos. Aumento significativo no custo da produção em decorrência dos gastos com mão de obra especializadas e tratamentos também devem ser considerados.
Os fatores levantados indicam a importância da vigilância sanitária e nutricional nas propriedades. Neste sentido, indica-se a vacinação sob orientação veterinária, adequada higienização do piquete maternidade, além de a realização de vazio sanitário e desinfeção dos tetos e materiais na sala de ordenha. Cuidados nutricionais como adubação de pastagens e utilização de sal pré-parto com níveis de minerais calculados para atender a demanda metabólica devem ser levadas em consideração. Adicionalmente, o uso de concentrado energético também tem mostrado resultado positivo na reposição de vitalidade do animal.
Considerações Finais
São diversos os distúrbios secundários à retenção placentária em bovinos que refletem diretamente na perca de sanidade e queda de produtividade do rebanho. Desta forma, é possível afirmar que a busca por métodos de diagnóstico diferencial e abordagem clínica de animais acometidos são importantes ferramentas na solução deste problema.