Introdução e Objetivo

As enteroparasitoses são um sério problema de saúde pública, apresentando altos índices de morbidade. No Brasil, a prevalência destas parasitoses é considerada elevada em função das condições precárias de saneamento básico que favorecem a contaminação do solo, água e alimentos e das condições socioeconômicas da população. A transmissão das enteroparasitoses ocorre por via oral-fecal, por meio da ingestão do parasito presente em água e alimentos contaminados. Os acometidos podem ou não apresentar sintomas. Estes quando surgem, são principalmente náuseas, vômito, diarreia, dores abdominais, diminuição do apetite, desnutrição e anemia. Considerando que as enteroparasitoses podem causar sérios danos à saúde e que estudos epidemiológicos contribuem para a construção de políticas públicas de promoção à saúde e melhoria da qualidade de vida da população, o objetivo deste trabalho foi comparar o perfil epidemiológico de parasitados de Campo Mourão e Peabiru, Paraná.

Metodologia

Campo Mourão possui 92.930 habitantes e oito laboratórios de análises clínicas, Peabiru possui 14.144 habitantes e um laboratório de análises clínicas. Foi escolhido um laboratório de análises clínicas de cada município, por conveniência. Nos bancos de dados dos laboratórios foram coletados dados de indivíduos que realizaram exames parasitológicos de fezes no período de janeiro a dezembro de 2013. As variáveis analisadas foram idade, gênero, quantidades de amostras de fezes coletadas, tipo de convênio médico e o resultado do exame parasitológico. Os dados foram utilizados para comparação do perfil de infecções parasitárias existentes nos dois municípios pesquisados. Os dados foram analisados por meio de cálculo de Razão de Prevalência utilizando o software Epi Info. Foi considerado nível de significância superior a 95%. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética para Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Faculdade Integrado de Campo Mourão (CAAE: 46799015.4.0000.0092).

Resultados

Foram analisados 629 pacientes de Campo Mourão, com média de idade de 24,5 ± 21,2 anos e 56% pertencente ao gênero feminino. Em Peabiru, foram coletados dados de 791 pacientes, com média de idade de 21,4 ± 20,9 anos e prevalência do gênero feminino (57,4%). A taxa de infecção parasitária em Peabiru foi de 17,9%, contra 2,9% em Campo Mourão. O parasito mais encontrado em ambas as cidades foi Giardia intestinalis (72,6%, em média). Diferenças nas taxas de infecção dos dois municípios estudados foram observadas para Entamoeba coli, Endolimax nana, Enterobius vermicularis, Trichuris trichiura, Strongyloides stercoralis e Taenia sp. Entamoeba coli foi encontrada nos dois municípios estudados e Endolimax nana foi encontrada apenas em Peabiru. Dentre os helmintos, verificou-se maior prevalência em Campo Mourão, com 11,1% de infecções por Taenia sp. (não diagnosticada em Peabiru) e 5,6% de Ascaris lumbricoides, contra 0,6% em Peabiru. Os demais helmintos (Enterobius vermicularis, Trichuris trichiura e Strongyloides stercoralis) foram isolados apenas em Peabiru. As infecções parasitárias evidenciadas nos dois municípios deste estudo foram relacionadas à algumas variáveis para determinação de medidas epidemiológicas de associação e efeito. Não foi encontrada associação significativa para gênero, já para faixa etária, foi observada maior frequência de parasitoses nas crianças com idade entre 0 e 15 anos. Comparando crianças (0 a 15 anos) e adultos, apenas foi evidenciada associação significativa em Campo Mourão, com Razão de Prevalência (RP) de 3,96, Intervalo de Confiança (IC) de 1,32 a 11,91 e p-valor < 0,01. Em Peabiru, quando comparadas as categorias de 0 a 4 anos e 5 a 10 anos, observou-se que há maior chance de infecção parasitária na faixa etária de 5 a 10 anos (RP 2,1; IC: 1,3 a 3,4; p-valor<0,01). Em relação ao tipo de convênio, 39,7% dos indivíduos de Campo Mourão utilizavam o Sistema Único de Saúde (SUS), contra 87,5% dos pacientes atendidos em Peabiru. Entretanto, somente para Campo Mourão foi encontrada associação significativa entre infecção parasitária e ser usuário do SUS (RP 3,94; IC: 1,42 a 10,92; p-valor<0,01). Quanto à quantidade de amostras fecais coletadas, dos pacientes de Campo Mourão apenas 13% coletaram 3 amostras, sem associação significativa com a detecção de parasitos. Já em Peabiru, 30,3% dos indivíduos coletaram 3 amostras e este fator aumentou em 2,4 vezes a chance de diagnóstico positivo (IC: 1,81 a 3,25; p-valor<0,01).

Considerações Finais

Peabiru apresentou maior taxa de infecção parasitária do que Campo Mourão e a espécie em predominância nos dois municípios foi Giardia intestinalis. Também foi possível evidenciar que o tipo de convênio, idade e quantidade de amostras coletadas estão associadas à infecção parasitária. Estudos epidemiológicos devem ser sempre realizados a fim de gerar informações úteis aos gestores municipais visando à erradicação das parasitoses intestinais e melhoria da qualidade de vida da população.