Introdução e Objetivo

Perfurações oculares são emergências veterinárias que podem ser causadas por corpos estranhos, traumas, substâncias químicas, anormalidades palpebrais, infecções por micro-organismos, que podem ocasionar ulcera profunda, descemetocele, sinéquia anterior, glaucoma, catarata e endoftalmite e podem ser tratadas por meio de cirurgias como o flap conjuntival, uso de enxertos, ceratoplastia e materiais biológicos.

Desmetocele são ulceras profundas em que a membrana de Descemet está exposta, e as camadas da córnea, membrana basal e estroma estão comprometidas, sendo necessária a intervenção cirúrgica como tentativa de manter o bulbo ocular, para recobrir a lesão e fornecer proteção mecânica e elementos para a defesa da córnea e subsídio para sua recuperação. 

Objetivou-se relatar o uso do flap de conjuntiva no tratamento de uma descemetocele em um canino.

Metodologia

Foi atendido no Hospital Veterinário da Faculdade Integrado de Campo Mourão um cão, macho, SRD, com 11 kg, de idade e origem desconhecidas. No exame físico constatou-se perfuração ocular no olho esquerdo e no olho direito opacidade, descemetocele e prolapso da glândula nictitante, por se tratar de um animal errante não sabe-se a origem de tais lesões. Após coleta de sangue e constatação de normalidade aos exames hematológicos e bioquímicos foi realizado o procedimento cirúrgico, de enucleação no olho esquerdo e no olho direito foi realizada a técnica de flap de conjuntiva com sepultamento da glândula nictitante.

Neste referido relato, o flap pediculado foi divulsionado da conjuntiva bulbar e avançado ao local da lesão com suturas e suturado junto a córnea utilizando caprofyl5-0, optou-se por flap de conjuntiva, pois a terceira pálpebra encontrava-se edemaciada e com sinais de inflamação em razão do prolapso de sua glândula. 

Resultados

A córnea é formada por 5 camadas sendo elas a película lacrimal pré-corneal, o epitélio anterior e  membrana basal, o estroma, a membrana de Descemet (penúltima camada) e o endotélio. Em ulceras profundas, em que o estroma está lesionado e a membrana de Descemet se projetar para frente agindo como defesa da córnea para  preservar o globo ocular, em casos como este é possível utilizar flaps conjuntivais, de terceira pálpebra ou membranas biológicas, como pericárdio ou membranas amnióticas para o reparo da córnea não mantem suas características funcionais, no local em que é feito o reparo ocorre a perda da transparência.

A técnica utilizada é do sepultamento da terceira pálpebra que forma uma bolsa, na conjuntiva ao redor da glândula prolapsada no padrão continuo para o reposicionamento. O procedimento de enucleação que foi realizado no olho esquerdo do animal é realizado em casos que já não se tem o globo ocular viável, a técnica consiste na retirada do globo ocular, terceira pálpebra e a glândula nictitante são realizadas em casos em que o animal o globo ocular sofreu danos irreparáveis e apresenta dor

Após o procedimento o animal foi mantido hospitalizado utilizando tramadol (4mg/kg), dipirona (25mg/kg), meloxican (0,2 mg/kg) e enrofloxacina (5mg/kg), e obteve alta após dois dias do procedimento cirúrgico e para o uso em casa colírio tobramicina ( 1 gota a cada duas horas durante  15 dias  e dipirona (25 mg/kg a cada 8h via oral) e enrofloxacina (5mg/kg a cada 12h por via oral por 10 dias).

A cicatrização é rápida, os retalhos conjuntivais se aderem rapidamente na córnea e protegem e fornecem vascularização e fibroblastos que auxiliam na cicatrização, o remodelamento da cicatriz leva vários meses e apresentam diferentes níveis de opacidade.

No retorno foram retirados os pontos da enucleação do olho esquerdo e no flap de conjuntiva do olho direito havia um descolamento devido à briga com outros animais e precisaria ser refeito.

Considerações Finais

Estudos apontam que o usa da técnica de flap de conjuntiva são eficazes para o tratamento de descemetocele e manutenção do globo ocular. No caso deste cão, o tratamento estava transcorrendo dentro da normalidade até o incidente da briga.

Os casos em que há um comprometimento muito grande da córnea a intervenção deve ser o quanto antes para poupar o globo ocular, reduzir as chances de infecções e para que não seja necessário um procedimento mais radical como a enucleação