Introdução e Objetivo

A displasia renal (DR) se caracteriza pela má formação dos rins durante o desenvolvimento embrionário, acarretando em evolução anômala do parênquima renal, em que os glomérulos apresentem-se de forma imatura (fetais). Trata-se de uma patologia de origem congênita, unilateral ou bilateral e podem se desenvolver de forma focal ou disseminada pelos rins tornando-os disformes e/ou reduzidos de tamanho, levando à insuficiência renal crônica em cães jovens. Em geral, os animais que desenvolvem DR, apresentam sinais de insuficiência renal crônica entre um e dois anos de vida. Exames radiográficos, mais especificamente a ultrassonografia, são de grande ajuda para o diagnóstico clínico de DR, pois admite a visualização da forma, tamanho e arquitetura do parênquima renal. O presente trabalho tem como objetivo relatar um caso de displasia renal em um canino, o prognóstico e os exames complementares necessários para determinar o diagnóstico.

Metodologia

Um canino fêmea, não castrada, da raça Lhasa Apso, de um ano e dez meses de idade, foi atendido no Hospital Veterinário da Faculdade Integrado de Campo Mourão. Com queixa de apatia há uma semana, relatou que desde os seis meses de idade o animal apresentava quadros recidivantes de erliquiose. Nos exames complementares apresentava anemia severa arregenerativa e aumento de ureia, creatinina e FA. Realizou-se urinálise, ultrassonografia de abdômen e radiografia do tórax, verificando-se alterações renais sugestivas de displasia renal. O paciente foi internado, iniciou-se antibiótico terapia com enrofloxacina, fluidoterapia e transfusão sanguínea para correção da anemia. Foi feito acompanhamento com exames periódicos. O animal teve boa resposta inicial ao tratamento, mas voltou a ter aumento nos níveis de ureia e creatinina. Como não dispúnhamos de hemodiálise e transplante renal, foi decido pela eutanásia.

Resultados

No relato foi possível analisar que os sinais clínicos da DR culminam em insuficiência renal crônica em cães jovens e apresenta um prognóstico ruim. A importância dos exames complementares se tornaram evidentes, pois não apenas norteiam o médico veterinário ao diagnóstico clínico, como também auxiliam no prognóstico do paciente e se mostraram extremamente úteis para mensurar a efetividade do tratamento instituído, através de exames periódicos, pois a abordagem terapêutica da doença renal crônica deve ser adaptada e ajustada de acordo com o estágio da patologia. O tratamento instituído para o paciente foi frente aos achados no hemograma, bioquímica sérica e urinálise, a fim de corrigir as deficiências hidroeletrolíticas, equilíbrio ácido básico, vitaminas, minerais e nutricional. Existem outras formas de tratamento como: hemodiálise, diálise peritoneal e transplante renal, são técnicas custosas e pouco pesquisadas na área da medicina veterinária. As alterações ultrassonográficas verificadas corroboram com os relatos de diversos autores, em que é evidente a diminuição dos rins, perda das delimitações corticomedulares, aumento de ecogenicidade do parênquima renal e contornos pouco definidos. As alterações hematológicas são condizentes com a literatura, a presença de anemia normocítica, normocrômica e arregenerativa está relacionado com a diminuição da síntese de eritropoetina, porém não foi realizado a contagem de reticulócitos, exame necessário pra a confirmar a anemia arregenerativa. A transfusão sanguínea é descrita como uma técnica eficaz para o aumento do nível de hematócrito em animais com anemia severa. De acordo com a tabela de classificação da doença renal crônica feita pela IRIS (International Renal Interest Society), a lesão descrita no relato se encaixa no estágio IV (último estágio), uma vez que a creatinina se apresentava acima de 5 mg/dl. Caracteriza-se fase final da doença renal crônica. À necropsia, nota-se no exame macroscópico rins pequenos, pálidos, com superfície irregular, firmes, diminuição da espessura cortical e estriações esbranquiçadas, ao exame histológico verifica-se glomérulos e túbulos fetais. Alterações condizentes com as do paciente descrito.

Considerações Finais

Com um prognóstico altamente desfavorável, fica evidente o foco que o médico veterinário deve apresentar à qualquer sinal clínico que possa ser relacionado com doença renal crônica. Assim como a displasia renal deve ser diagnosticada o mais rápido possível. A utilização de exames de bioquímica sérica, urinálise e ultrassonografia, se mostraram ferramentas vitais para o diagnóstico clínico da displasia renal nas mãos de um profissional diligente e devem ser utilizados sempre que possível.