Introdução e Objetivo

Entre os animais domésticos, a criptococose ocorre com maior frequência nos felinos, porém acomete grande parte dos mamíferos, inclusive os humanos, tornando-a assim uma zoonose. Causada, principalmente, pelo Cryptococcus neoformans e C. gattii, origina enfermidades sistêmicas que acometem cavidade nasal, tecidos paranasais, pulmão, tecido cutâneo e sistema nervoso central. A fonte ambiental do C. gattii está associada a eucaliptos e material vegetal em decomposição, enquanto o C. neoformans é principalmente encontrado em excretas de aves, especialmente pombos. Sua principal forma de infecção é através da inalação das leveduras presentes no ambiente. Por se tratar de uma micose sistêmica, seus sinais clínicos variam de acordo com o sistema afetado sendo as infecções do sistema nervoso central (SNC) incomuns. O presente trabalho teve como objetivo relatar um caso de criptococose em um felino, o prognóstico e os exames complementares necessários para determinar o diagnóstico.

Metodologia

Foi atendido no Hospital Veterinário da Faculdade Integrado de Campo Mourão, um felino, macho, não castrado, com dois anos de idade, da raça Siamês, com histórico de nódulo na região cervical há 15 dias. Durante o exame físico verificou-se que o animal apresentava os gânglios linfáticos reativos. Realizou-se exame citológico que revelou presença de organismos compatíveis com Cryptococcus sp associados com linfadenite granulomatosa. Foi estipulado tratamento sistêmico à base de itraconazol 10mg/kg SID VO, por no mínimo 60 dias ou 30 dias após a resolução dos sinais clínicos. Após 4 dias de tratamento o paciente retornou apresentando alterações neurológicas como midríase, ausência de resposta a estímulo luminoso, ataxia e nistagmo momentâneos. O paciente foi internado e alimentado por meio de sonda esofágica no dia seguinte à internação, já que não foi possível alimentá-lo com seringa, porém o animal veio a óbito durante o procedimento.

Resultados

Por se tratar de uma micose sistêmica, seus sinais clínicos variam de acordo com o sistema afetado. Quando há infecção respiratória pode ocorrer espirro, dispneia inspiratória, secreção nasal unilateral ou bilateral e variando de serosa, mucopurulenta ou sanguinolenta. Além da formação de nódulo firme no tecido subcutâneo, principalmente sobre a região nasal, o que acarreta em um aspecto de “nariz de palhaço”, característica associada a criptococose. Há casos em que o agente infeccioso migra através do trato bulbo olfatório até o nervo óptico causando a meningoencefalite, neurite óptica e retinite. Os sinais neurológicos incluem: convulsões, mudança no estado mental, déficits de nervos cranianos, ataxia, deambulação em círculos, paresia e paralisia. Devido a disseminação hematógena, a criptococose pode levar a osteomielite, insuficiência renal crônica e linfoadenomegalia generalizada. O diagnóstico pode ser feito por meio de avaliação citológica, histopatológica ou cultura fúngica para a identificação do microrganismo, Há relatos que demonstram que no exame hematológico de um animal infectado, verifica-se anemia não regenerativa e monocitose, sem alteração nos exames de bioquímica sérica, assim como no animal descrito. O tratamento é feito com antifúngicos sistêmicos: anfotericina B, fluocitosina, cetoconazol, itraconazol e fluoconazol, isoladamente ou em associações como: cetoconazol-fluocitosina, anfotericina B-fluocitosina. O prognóstico para os felinos com criptococose que não apresentam envolvimento do SNC é favorável, porém nos animais com comprometimento do SNC o prognóstico é reservado, pois, neste estágio, não há boa resposta ao tratamento.

Considerações Finais

A criptococose tem sua importância por ser uma zoonose de âmbito mundial. É dever do médico veterinário relatar ao proprietário quanto aos riscos de contaminação e também os métodos de prevenção.

Apresenta método de diagnóstico rápido e pouco oneroso, que juntamente aos achados clínicos permite que o médico veterinário aplique uma conduta terapêutica adequada ao paciente.