Introdução e Objetivo

Por ser rico em ômega-3 e 6 e devido aos benefícios proporcionados à saúde, o óleo de chia vem sendo amplamente consumido, porém seus altos níveis de ácidos graxos insaturados comprometem sua estabilidade oxidativa. Com isso, a microencapsulação de óleos em compostos biocompatíveis apresenta-se como uma alternativa na prevenção da oxidação. Então, o presente trabalho teve por objetivo microencapsular óleo de chia utilizando cera de carnaúba como encapsulante, avaliando a eficiência da encapsulação, o perfil de ácidos graxos e sua estabilidade oxidativa através de análises cromatográficas e de calorimetria diferencial de varredura.

Metodologia

Para a obtenção das microcápsulas foi implementada a técnica descrita por Gonzalez e Mira et al., (2010) com algumas modificações, que após serem confeccionadas foram liofilizadas e armazenadas a 10ºC até sua utilização nas análises. A preparação de ésteres metílicos de ácidos graxos a partir dos constituintes das microcápsulas e do óleo in natura para a cromatografia gasosa (CG) foi executada segundo o método de Hartman e Lago (1973) pequenas com adaptações. Para a eficiência da encapsulação, as microcápsulas foram lavadas com etanol para retirada do óleo não encapsulado seguida da determinação da diferença da concentração dos ácidos graxos, determinadas por CG. O tamanho e morfologia das micropartículas foram analisadas em microscópio óptico (BIOVAL, L2000A). As análises térmicas foram realizadas em um calorímetro diferencial de varredura (DSC 4000, Perkin Elmer, de 0 a 440°C a 20°C/min com ar sintético a 100mL/min em porta-amostras abertos). 

Resultados

Foi possível observar nos cromatogramas os picos correspondentes aos ácidos linoléico (ômega-6) e alfa-linolênico (ômega-3) nos tempos de retenção de aproximadamente 12 e 14 min., respectivamente. O total de ácidos graxos encontrado tanto para o óleo quanto para as microcápsulas se situou em torno de 1000 mgAG/góleo, indicando que o procedimento de esterificação foi eficiente. Como esperado, foram encontradas altas concentrações de ômegas 3 e 6, sendo a concentração de ômega-3 determinada em torno de 63,8% em relação ao total de ácidos graxos, resultado condizente com o descrito na literatura (Capitani et al., 2012). A eficiência de encapsulação encontrada para os ômegas 3 e 6 foram de 96,4 e 96,6%, respectivamente, indicando afinidade entre a cera de carnaúba e o óleo de chia.

Na análise microscópica, as microcápsulas apresentam-se com morfologia esférica e tamanhos em torno de 20-100 µm. Pode ser observado o pico de fusão da cera de carnaúba em cerca de 85ºC, a entalpia de fusão para as microcápsulas branco (sem o óleo) foi de 206,13 J/g, já para as microcápsulas contendo o óleo de chia foi de 122,68 J/g. Essa diferença se deve à interação existente entre o óleo e a cápsula, sendo mais um fator comprovatório da eficiente encapsulação. Fernandes, Borges e Botrel (2014) em seu trabalho comparam diversos materiais de paredes na microencapsulação de óleo de alecrim, concluindo que encapsulantes com maiores temperaturas de fusão tendem a proteger de forma mais efetiva o óleo quanto à oxidação.

Na calorimetria diferencial de varredura (DSC) a degradação oxidativa do óleo apresentou?se como um pico exotérmico. Foi possível observar que, para o óleo in natura, a degradação iniciou em cerca 243ºC enquanto que para o óleo encapsulado a degradação foi detectada em cerca de 367ºC. A degradação oxidativa de óleos contendo ácidos graxos insaturados compreende reações em cadeia de radicais livres, iniciada pela formação de peróxidos e subprodutos secundários até total degradação (Corsini et al., 2008). A encapsulação foi capaz de retardar o início do processo de oxidação, protegendo o óleo de chia do oxigênio atmosférico, fator primordial para a degradação.

Considerações Finais

O óleo de chia foi efetivamente encapsulado na matriz de cera de carnaúba. Esse material encapsulante mostrou grande afinidade com o óleo de chia conforme corroborado pelas análises cromatográficas de eficiência de encapsulação. Além disso, os ensaios não isotérmicos por Calorimetria Diferencial de Varredura comprovaram a efetiva proteção do óleo contra a degradação oxidativa.