Introdução e Objetivo
A anestesia regional consiste na deposição do anestésico local próximo a um nervo ou plexo, resultando na interrupção da condução dos impulsos nervosos e dessensibilização de uma área. Em pequenos animais, os bloqueios locais são geralmente utilizados em associação com a anestesia geral para promover analgesia e diminuição do requerimento do anestésico geral.
O bloqueio do plexo braquial promove anestesia do membro torácico distal à articulação escápulo-umeral, facilitando intervenções como redução de luxações ou fraturas. No cão, o plexo braquial é formado pelos nervos musculocutaneo, ulnar, mediano e radial e intimamente ligadas ao plexo encontram-se artéria e a veia axilar.
Os benefícios da utilização dos bloqueios são menor índice de mortalidade, a recuperação precoce, a diminuição de analgésicos sistêmicos no pós-operatório e o custo reduzido.
Objetivou-se com esse relato demonstrar a importância da realização da anestesia regional em cães submetidos a procedimentos cirúrgicos.
Metodologia
Foi atendido no HV Integrado de Campo Mourão um canino fêmea, de cinco anos de idade, da raça São Bernardo, pesando 52kg. O animal apresentava claudicação e aumento de volume em membro torácico direito com evolução de três meses. Ao exame radiográfico foi observada reação periosteal em terço distal de rádio, sem envolvimento articular, sugestivo de neoplasia óssea. O exame citológico realizado não foi conclusivo. Optou-se juntamente com o proprietário pela realização do procedimento de amputação do membro afetado, por provavelmente tratar-se de uma neoplasia maligna. Ao exame pré-anestésico o animal apresentava 110 batimentos por minuto, pulso filiforme, 24 respirações por minuto, tempo de preenchimento capilar igual a 2 segundos e temperatura retal igual a 38,1ºC.
Resultados
O animal foi pré-medicado com acepromazina 0,04mg/kg em associação com morfina 0,3mg/kg por via intramuscular. A indução anestésica foi realizada com a associação de cetamina (5 mg/kg) e diazepam (0,2mg/kg) por via intravenosa e em seguida o animal foi intubado e mantido em anestesia inalatória com isoflurano diluído em 100% de oxigênio em circuito valvular e mantido em ventilação espontânea.Foi também colocado em infusão analgésica de fentanil, lidocaína e cetamina.
O bloqueio do plexo braquial foi realizado com 15 ml de lidocaína 2% sem vasoconstritor, utilizando-se um cateter 16G para a realização da técnica. Foram monitorados os valores de frequência cardíaca e respiratória e a saturação de oxigênio da oxihemoglobina, a cada 10 minutos. O procedimento cirúrgico se estendeu por 195 minutos, e durante este período o animal manteve-se estável com a média de 12 respirações por minuto, 110 batimentos por minuto e 97% de saturação de oxigênio na oxihemoglobina.
A medicação pré-anestésica utilizada promoveu sedação leve, porém somente após a anestesia qeral foi realizado o bloqueio, de modo que não houvesse movimentação do animal no momento da aplicação do anestésico, reduzindo riscos de lesão direta do plexo. Os nervos do plexo braquial foram localizados pela palpação do pulso da artéria axilar, uma vez que os nervos que compõem o plexo braquial estão ao redor desta artéria. O bloqueio foi realizado sem dificuldades, e a estabilidade do paciente durante o período cirúrgico sugere que o bloqueio tenha sido eficaz.
A lidocaína é um anestésico rapidamente absorvido pelos tecidos e membranas mucosas, possui tempo de latência curto que permite início rápido do procedimento, e recuperação rápida. A perda da sensibilidade e da função motora se dá em 10 a 15 minutos e a anestesia dura cerca de duas horas.
Segundo a literatura as possíveis complicações para este bloqueio são a hipotensão, a injeção intravenosa do anestésico, neuropatias e hematomas na região. Outra preocupação por tratar-se de um canino de grande porte seria o bloqueio incompleto do plexo, por isso grande volume foi utilizado, conforme é citado na literatura.
A infusão de fentanil, lidocaína e cetamina, juntamente com o anestésico local diminui o requerimento do anestésico geral inalatório, promovendo uma anestesia balanceada. Além disso, o uso da infusão analgésica se fez necessária devido ao bloqueio do plexo não promover analgesia da região escapular.
Considerações Finais
Diante do resultado exposto, pode-se concluir que o bloqueio do plexo braquial é uma técnica possível de ser empregada em cães, fornecendo anestesia de toda a região distal à articulação escápulo- umeral. A anestesia regional reduz o risco anestésico em animais debilitados por diminuir o requerimento do anestésico geral que possui efeito depressor cardiorrespiratório. Porém, o conhecimento da anatomia e da técnica escolhida para o bloqueio é fundamental para que não ocorram complicações